quarta-feira, 25 de julho de 2012

Segundo dia do Salkantay-De Soraypampa para Colpapampa



O ponto alto da Trilha- O encontro com a Montanha Selvagem

O Alex veio nos acordar com a garrafa térmica de água quente e o folhas de coca. Depois de previamente aquecidos pelo chá, bem importante para que ainda mantivéssemos o calor do sleeping bag, juntamos nossa tralha e descemos para o desayuno, que surpresa! Nem em sonho pensei em acordar num acampamento com panquecas de banana cobertos de doce de leite no café da manhã, mais café e té.

Olha isso!!

Onde ficou nossa barraca
O refeitório e  cozinha
Saímos meio atrasados e por conselho do Osgel e do Roberto, invertemos a mochila, pegando a mochila da Júlia, e deixando do João-delivery com menos peso, só o essencial, por volta das 7:00 hs, mas como  o Osgel havia falado que neste dia usaríamos o cavalo revezendo na subida, eu e a Júlia, acho que ele nos deu esse luxo, da saída tardia.


Mountain Lodge
Passamos pelo Mountain Lodge, aquele do trekking luxuoso e o Osgel nos mostrou.


A subida no começo parecia leve, mas a falta de ar persistia, comecei a ficar muito para trás e o Osgel mandou eu subir no cavalo e lá fui, descansando. Na subida desgraçada, em zigue zague, lá vou eu para o cavalo de novo... Confesso que a sensação é de alívio, lógico, mas dá um certo ar de fracasso, vendo todo o povo sofrendo e principalmente eu deixando a Júlia e o João para trás, e falando para o Osgel, “-deixa eu aqui no meio, para a Júlia pegar o cavalo”, e ele não se convenceu e falou que não, só quando chegássemos lá em cima eu descia...


E assim fomos, conforme descrito na programação, atravessando o estreito de Salkantaypampa para ir ao lado esquerdo do nevado Umantayblanco.
Acabando a subida, conforme o combinado e para não atrasar muito continuei a caminhada, enquanto o Osgel esperava os dois. Tirando a falta de ar, tudo é de uma beleza diferente para nós, que não estamos acostumados com esse tipo de paisagem... tudo branquinho, coberto pelo gelo, o azul intenso, impossível descrever, mais aquela vastidão branca, pontuados com pontinhos negros, e como todos os turistas estão cansados, acaba aquele falatório do lado e foi ótimo para passar um tempão sozinha, caminhando...

Um lago meio congelado. Olha as pessoas pequenininhas, lá atrás
Na reta final da subida, aparece o Osgel de novo, me oferece o cavalo novamente, pergunto sobre a Júlia, ele disse que ela usou o cavalo um pouco lá atrás e subo de novo.
Chegamos ao ponto mais alto, a passagem Salkantay Umantay por volta das 11:45 hs, e lá o Osgel explica mais um pouco sobre as formações colocadas lá, (vou tentar lembrar como ele falou, mas não tenho certeza absoluta, gente)...
As apachetas
 As apachetas, onde se acreditava (e acredita-se ainda) que quem coloca uma pedra no topo da montanha e crê do fundo do coração, tem seu desejo realizado. A ligação do povo inca com sua religião e sua influência na vida cotidiana dos campesinos-os camponeses,que os incas cultuavam este lugar  e outros apus-montanhas como um lugar sagrado, pois representava a ligação com Inti-Sol, a PachaMama-a Mãe Terra e os picos nevados, que após o derretimento da neve, traria água, e seria um local para pedir as bênçãos para uma boa colheita.

Ói nóis aí traveiz...
Esperamos a chegada do João e Júlia, que chegaram por volta das 12:30 hs, bem cansados.
Enquanto pegávamos emprestado a bandeira brasileira dos rapazes Guilherme, Rodrigo e Felipe, de Porto Alegre, que conhecemos nesta trilha e que voltaríamos a nos encontrar em diversas vezes para tirar a foto clássica, vi uma coisa que em todos estes tempos não tinha visto ainda, que foi o João desatar a chorar em uma trilha...
Ele me contou depois que foi um misto de sentimento de conquista, mais do cansaço, mais toda a história que o Osgel contou para ele que não conseguiu segurar. Contou também que durante a subida em zigue zague viu gente chorando, achando que não ia conseguir, e também que a Júlia desabou a chorar depois que acabou a subida. Disse que todos os guias que passavam por ele e pela Júlia perguntavam se estava tudo bem, e também aconselhavam, diziam palavras de incentivo e até de simpatia, onde uma guia falou que era para eles pegarem qualquer pedra da trilha e esfregarem no corpo, pedindo para levar o cansaço embora. É, esta trilha foi punk.

Imagina a nossa coragem para andar depois de um almoço desses!!!
Começamos a descida, achamos que seria perto, mas ainda teve muito chão até o almoço.
Almoço de novo bem farto, suco para nos esperar, arroz, bife, um refogado com um feijão verde local e outras vegetais locais ardidos, mas saborosos, batatas com um creme bem picante e salada.
Não deu para descansar de novo, porque acabamos nos atrasando para variar, e fomos lá, descendo, descendo, e percebendo que a paisagem ia mudando, conforme íamos descendo.
Passamos no segundo Lodge do Montain Lodge e a Júlia disse que gostaria muito de ter ficado por lá mesmo...
Durante o caminho encontramos algumas habitações, duas menininhas no meio da trilha, cerca de 6~7 anos, bem bonitinhas, com aqueles uniformes que achamos o máximo, de saia pregueada, casaco com brasão e meias até os joelhos, que brincaram conosco sobre contas de somar e multiplicar e a cada resposta que fornecíamos à pergunta formulada era recebida com sonoras gargalhadas pelas duas, e fomos nós,descendo, descendo...
Nos encontramos num pequeno povoado e muitos daqueles que havíamos visto lá no alto, já estavam ensaiando uma pelada nos acampamentos... é, jovem é outra coisa...
O Osgel, com o “mais 25 minutos” eternos dele, já escurecendo, atravessamos uma ponte sobre o rio, o cavalo se soltou dele, ele foi atrás, nós 3 sem saber o que fazer por um breve momento, até que ele nos encontrou e fomos seguindo, por um caminho que já não dava para ver direito, porque tinha sobrado uma lanterna bem fraquinha, que por acaso tinha ficado na mochila da Júlia, as 3 restantes estavam lá no provável acampamento, já montado, esperando por nós.


Quem quase ficou com vontade de chorar nesta hora fui eu, de cansaço, da escuridão, de um lugar que o Osgel falou que tinha desabado e que era para a gente passar correndo, imaginando no cansaço da Júlia e do João que deveriam estar muito maiores do que o meu...
Não sei direito quanto tempo, que para mim foi um tempão, chegamos ao segundo acampamento, num camping mesmo, estava ainda bem frio, mas menos frio que o primeiro dia, pois estávamos a 2.800 metros.Cumprimos neste dia 21 km, e descemos 1.000 m de altitude.

Seguimos a mesma rotina, pulamos o happy hour e fomos direto ao jantar: a sopa como entrada, macarrão e salada. Vimos durante o jantar e o Roberto nos chamou a atenção para isso, para olharmos como as crianças estudavam lá: a menina na beira da fogueira, com uma lanterna iluminando seu caderno e explicando toda orgulhosa para o irmão mais novo o que havia aprendido na escola. Ele ainda riu: “-É, igualzinho as crianças do Brasil devem estudar, na sua mesinha, com sua luminária particular...” (pensei, é bem assim mesmo, e ainda assim, elas reclamam da vida, por aqui...
Daí, para a barraca, descansar.






6 comentários:

  1. Nossa Márcia, parabéns pra voces por essa "empreitada". Dá para sentir a dureza que está sendo....força pra todos e um grande beijo.

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    1. Oi Eliana!
      Foi uma dureza mesmo, mas não lembro (muito menos o João) de ter "sentido" tanto o contato com a Natureza. Passam muitas coisas na nossa cabeça, e foi a concretização de um sonho!
      Bjos!
      Marcia

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  2. No meio da trilha a gente pensa" o que é que eu estou fazendo aqui?" Mas depois vem a sensação de conquista, de ter valido a pena..

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    1. Olá Cris e Sérgio!
      É isso mesmo!!! Li um relato que primeiro fiquei com dó, mas depois rimos muito, que durante a subida ele pensava: "eu queria estar na minha casa... eu queria estar numa praia...eu queria estar comendo um churrasco..." e assim por diante. Já havíamos sido alertados e o guia Fredi nos avisou para levarem música, para ir ouvindo, pq só se pensava em bobagem na subida e foi o que fizemos. Mas é isso mesmo, na chegada ao pico, vale a sensação de triunfo.
      Um grande abraço!
      Marcia

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  3. 21 km é bastante mesmo... Os passos que atravessamos eram um pouco mais altos (4600 a 5000m), mas não pegamos nenhum dia mais que 13km de caminhada! Punk mesmo esse trecho...
    Eu não precisei pegar o cavalo em nenhuma hora... Depois o guia confessou que jurava que eu seria a primeira a pedir o cavalo!
    Ótimo relato. Parece até que eu estava lá!
    Bjs

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    1. Oi amiga!!
      Obrigada!
      Olha, foi pesado mesmo. Ficou um pouquinho da sensação de fracasso, de não ter conseguido andar tudo sim, mas o guia já tinha nos estudado no dia anterior, e acho que no final ele fez a escolha certa, pois se eu não tivesse subido, acho que teríamos atrasado muito mais ainda... é aquela coisa de conhecer os nossos limites... (e também começar a pensar a tentar fazer o que queremos enquanto ainda nos resta um pouquinho de força).
      Bjos!
      Marcia

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