Primeira caminhada com a Júlia São Francisco Xavier janeiro 2001 |
Revisitando este fim de semana os
inspiradores blogs Eu viajo com meus filhos e Mãe Mochileira, Filho Malinha revivi a vontade de compartilhar as nossas vivências com a Júlia desde pequena.
Atualmente, publicamos as viagens recentes, lógico, e parece que sempre foi
assim, mas para chegarmos até aqui, foi um longo processo...
Ouvimos sempre os maiores
incentivos e elogios pelo fato de levarmos conosco nossa filha nas trilhas desde
os 2 anos de idade praticamente,bem como desaforos impublicáveis de gente nos
xingando e achando um ABSURDO levar a criança para os perigos insondáveis da
vida na Natureza...
Pq. Nacional de Aparados da Serra Fevereiro de 2002 |
Na realidade, nunca paramos para
nos perguntar se seria possível continuar nossas viagens de ecoturismo quando
nossa filha nasceu há 13 anos.
Continuamos a viajar, e acima de
tudo, a vontade de continuar a fazer o que é nossa paixão e de não concordamos
em deixar nossa filha com avós, babás e tias, e perder a possibilidade de
compartilhar momentos únicos com seu filho, criando laços e cumplicidade entre
pais e filhos foi o que nos motivou a buscar formas de levá-la conosco.
Pensamos que o primeiro item a
ser pensado, claro, é na criança. Ouvi isso uma vez de uma amiga, quando a
Júlia tinha meses, e nunca mais isso nos abandonou: "quando você moldar a
sua vida para o bem estar dela, todo o resto irá fluir", e essa máxima,
utilizamos em todo o processo, não só nas trilhas, claro...
Pq. Carlos Botelho abril de 2003 |
Como?
Portanto, o primeiro item pensado
foi no meio de transporte. Lógico, que vimos todo o tipo de coisa: criança
sendo carregada no colo, nos ombros, sentada, deitada, mas pela nossa
experiência, a melhor maneira ainda é o equipamento correto, que é a
cadeirinha. Desde os modelos mais simples até os mais sofisticados, o
importante é que ela ofereça segurança para a criança, com acolchoamento
interno, cintos de segurança para fixá-la ,e também para quem a carrega,
trazendo maior estabilidade e segurança.
Depois de adquirido o equipamento
vem o processo de "aclimatação" da criança. É um processo, mesmo,
mostrando para a criança que é uma brincadeira. Com o tempo, e quanto mais
tranquilo for esta aclimatação, ela e o carregador irão se ajustando. Cabe
ressaltar aqui, que durante o processo, carregue a criança na cadeirinha onde
for com ela, na feira, no mercado, no shopping, no parque...
Gruta do Paiva- Intervales 2006, com a tia Adriana e Marlene |
Acompanhantes
Vamos para os acompanhantes...
Como o carregador estará sobrecarregado, literalmente, o acompanhante acaba
ficando com todo o restante da bagagem. Lanche de trilha, mudas de roupas para
a criança, fraldas, suquinhos, lanchinhos, marmitinhas e todo o resto .
Outra importante tarefa do
acompanhante é colaborar na trilha, sinalizando os melhores pontos no caminho,
onde oferece risco, liberando a trilha, visualizando em cima também, porque a
criança normalmente estará acima do nível da cabeça do carregador, então ficar
atento a galhos ou outros eventuais riscos.
Com relação ainda a
acompanhantes, aqui sim, vale todo o tipo de ajuda. Tivemos váaarios
companheiros na nossa jornada, e todos eles foram muito importantes. Desde guias
cuidadosos, até nossa querida Ogroturma, que nos ajudavam de todas as maneiras,
carregando a cadeirinha literalmente, ou com palavras de incentivo para a Júlia
(e para o João).
Pq. Aparados da Serra Fev. 2002, o guarda chuva é um "improviso", tirado de um carrinho de bebê |
Alguns ajustes
Na caminhada:
Façamos alguns ajustes para que a
criança possa nos acompanhar nestas aventuras... Consideramos ajustes aqui,
desde acoplar um guarda chuva de carrinho na cadeirinha, como nós fizemos,
porque a criança não suporta colocar boné até adiar a tãao sonhada aventura
para a Patagônia, até a criança ter condições de acompanhar os pais.
Protetor solar e repelente,
apesar de um tormento de vez em quando passarem nas crianças que não param
quietas, imprescindível assim como renová-los a cada banho de cachoeira ou de
mar, claro.
Para descansar a criança e o
carregador, o ritmo da caminhada não pode ser como se só estivessem adultos e
jovens. O ritmo deve ser mais lento, com mais paradas, até para a criança
esticar as pernas um pouco, portanto, conte com uma turma compreensiva e com
guias locais que tenham o bom senso de entender isto (ou como fizemos várias
vezes, contrate um guia exclusivo, só para a sua família e deixe claro esta
condição).
Leve sempre água, (imprescindível),
sucos, bolachinhas, guloseimas.
Quando a criança for crescendo,
estas paradas podem ser um pretexto para elas irem "desmamando" da
cadeirinha, e aos poucos, os períodos que ela permanece caminhando irá
aumentando com a idade.
Até aqui, tudo tranquilo, pois o
esforço maior cabe a boa disposição do heroico carregador e aí chega o tempo em
que a cadeirinha torna-se pequena e o carregador também já não está mais assim,
um Hércules...
Gruta do Paiva Intervales 2006, já feliz nas cavernas |
No desmame da cadeirinha:
Como sempre: aclimatação da
criança e um processo lento e paciente...
No nosso caso foi o pior
possível: estávamos na Trilha da Cachoeira da Laje, na Ilha do Cardoso, cerca
de 20 km ida e volta, a Júlia com 4 anos, no limite de peso que a cadeirinha
suportava, e para ir, beleza...
Na volta, pegamos uma chuva no
caminho, os irresponsáveis guias do Parque simplesmente nos deixaram para trás,
com toda a nossa turma e o João simplesmente não aguentava mais, anoitecendo,
um horror!!!! O caminho até foi fácil de achar, não tinha muito segredo, mas a
Júlia acabou tendo que descer, e fomos guiando ela, dando a mão nos trechos
mais complicados, um na frente e outro atrás, mas com paciência (e toda a
querida Ogroturma que estava com a gente) conseguimos chegar no ponto inicial da trilha.
Ficaram aqui, algumas lições
deste dia:
-a criança sempre no meio de dois
adultos (ainda hoje escalamos a fila indiana nas trilhas desta forma,
intercalando a criançada que está com a gente);
-o adulto sempre orientando e
avisando onde pôr o pé, como, onde pôr a mão e onde não, os buracos, pedras e
pontos escorregadios e ajudando onde é mais perigoso;
-deveria ser o primeiro
mandamento do trilheiro: “Não pularás”... já vi gente tentando dar uma de
Indiana Jones e se machucando várias vezes...
-segundo mandamento: “Na dúvida,
use a terceira perna”... ou como dizia nosso amigo Aércio da Chapada
Diamantina, “usa o freio ABS”... eu
explico: (A bunda segura), eu sei, meio feio, mas sempre funciona. Nada de
novo, de dar uma de herói e Eu consigo! Ficou com receio de cair, não hesite!
-terceiro mandamento: “em pedras, principalmente molhadas, agacha,segura nas pedras e vai!” Esta história de andar
equilibrando em cima de pedras, achar que pode saltar e vai cair seguro do
outro lado, inevitavelmente acaba mal. Primeiro, certifique-se que terá apoio
no passo que dará e então continue, neste tipo de lugar.
-quarto mandamento: “não correrás”.
Você está c.a.m.i.n.h.a.n.d.o., não é uma corrida de aventuras, ainda mais com
crianças.
a "bóia-fria" em Gonçalves Julho de 2001 |
Na alimentação:
Algumas vezes não será possível almoçar,
dependendo da distância da trilha. Levávamos uma “bóia-fria” com um potinho com
um pouquinho do jantar do dia anterior e uma colher, ela sentava no colo do pai
ou num cantinho e mandava ver. Lógico que aqui valem as papinhas
industrializadas. No nosso caso, ela não gostava muito, pois sempre preferiu “comida
de verdade”, como ela dizia.
Conforme a criança vai crescendo,
com um café da manhã bem reforçado, alguns lanches de trilha, o almoço tardio
também fica valendo.
Concluindo portanto, com alguns
ajustes, uma conjunção de fatores, que inclui o equipamento, o carregador, os
acompanhantes e claaaro, a adaptabilidade de criança, é possível sim, você
continuar suas caminhadas com seu filho. Parece muito sacrificante, nestes
termos, mas acreditem, não existe satisfação maior do que você compartilhar
estes momentos dessas viagens, mais o contato com a natureza e o fortalecimento
do laço familiar.
Continuo nos próximos
capítulos...